DITONGO
A produção anterior de Fabiana Preti é marcada por suas pinturas de gestos contidos e fluxo geométrico baseadas no grid, como texturas ou padronagens. Em sua primeira individual a artista parte para a produção tridimensional e nela permanece a forte ligação com as linhas verticais, um sentido de elevação contínua do olhar em ritmos dinâmicos ou fixos, ordenados em progressão aritmética, tendendo sempre à verticalização e, agora, dialogando com o espaço arquitetônico. Essas novas construções são de uma organização dinâmica, gravitacional, espacial, em expansão e contração, de linhas mínimas e uso de materiais tradicionais, como a madeira e o ferro. Sua estalibilidade é relativa, trocando forças e tensões com o espaço que o cerca. Então, mesmo dentro de um padrão de ação organizadora, as obras apresentam certa fragilidade aparente, como um exercício poético da ordem, uma ordem a ser desfeita e refeita a cada espaço que a obra habitar.
Os espaços em branco ajudam a organizar os diferentes fluxos e movimentos. Com procedimentos de herança minimalista, presente desde suas pinturas iniciais, a influência aqui se torna espaço e assim o altera. Madeira e ferro, materiais ligados à história da escultura ocidental, ganham aspecto de linhas arquitetônicas, desenhos tridimensionais que articulam o vazio como elemento estrutural. O objeto é o material e o vazio que se movimenta ao seu redor. A noção ritmada do espaço e da organização interna dos elementos denota o desejo por ordenação, sequenciamento e estabilização, no ato de relacionar situações físicas a certos estados psíquicos.
Do teto do espaço pende um mensageiro dos ventos gigante mas, diferente dos que encontramos no ambiente doméstico, este não emite sons. Sua escala deixa pouca chance para a sutileza do vento e carrega consigo o ato de silenciar, condição essencial para qualquer escuta. Ditongo é uma exposição silenciosa, que sussurra com o espaço, desenha nele uma harmonia constelar e de movimentos sutis, quase vazios. Não o vazio como sinônimo do nada, mas o vazio como a condição para existência de tudo.
Danilo Oliveira