ACHEGO

Nada é o que parece ser. Às vezes um rápido olhar não dá conta de enxergar e assimilar um mundo de complexidades que um objeto, uma palavra, uma ação ou um traço podem trazer. Assim são as obras de Fabiañá Préti. Em um universo de técnicas e materiais, a artista muda, experimenta e nos traz múltiplas maneiras de vivenciar e sentir o que está ao nosso redor. Acrescentando formas, se mantém em uma equilibrada coreografia entre o orgânico e o inorgânico por meio de conjunções não óbvias, e nos convida a mergulhar em seus cortes e arestas.

Adendo, nome do seu novo conjunto de trabalhos, vai para além do significado etimológico de soma ou complemento – surge como mais uma ramificação do tronco poético em que a artista cresce e se desenvolve. O desenho industrial, base de sua formação acadêmica, impõe-se como a viga mestra que guia a produção. Para além de tintas, telas, papéis e madeiras – esquadros, réguas e transferidores são suas ferramentas essenciais. Entretanto, a rigidez da geometria dá lugar ao afeto que precede a criação.

Atenta aos encontros e desencontros da acelerada vida contemporânea, a artista nos convida a acessar e vivenciar seus pensamentos em um momento de intimidade – abre a porta de sua casa para que possamos sentar, dialogar e entender que sua produção é constituída de vestígios em telas, azulejos e esculturas da sua trajetória até o momento presente. Suas peças em madeira são totens criados com o propósito de aproximar pessoas, experiências e sentimentos e, assim, abrir espaços para compartilhar e somar.

Para além da repetição de padrões e formas, fonte de pesquisa dos trabalhos da artista, Fabiañá Préti nos mostra que estar em constante movimento e experimentação pode ser uma estratégia para escaparmos do lugar comum. Assim como as relações afetivas, cada traço, corte e aresta são construídos com tempo, paciência e dedicação. Achegar é estar junto e, por um instante, tornar-se um só. É entregar-se a um labirinto de emoções, sem perder-se no outro. Estar imerso em suas obras é entender que as coisas não simplesmente acontecem, elas são construídas – são peças que adicionamos diariamente na formação de quem somos e com quem nos relacionamos.

Felipe Barros de Brito

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